O Século XIX foi marcado por fortes mudanças sociais, políticas e culturais causadas pela Revolução Industrial e pela Revolução Francesa. A atividade artística tornou-se mais complexa e podem-se identificar neste período movimentos artísticos de diferentes concepções e tendências, como o Romantismo, o Realismo, o Impressionismo e pós-impressionismo. De todos, o Romantismo foi o que se caracterizou como a primeira e mais forte reação ao Neoclassicismo, embora tenha durado apenas 30 anos (1820- 1850).
O artista romântico procurou libertar-se das convenções acadêmicas a favor da livre expressão, da valorização dos sentimentos e da imaginação como princípios da criação artística. A estética romântica é caracterizada por sentimentos como o nacionalismo e a valorização da natureza.
A Pintura Romântica
Negando a estética neoclássica, a pintura romântica aproxima-se das formas barrocas. Pintores românticos como Goya, Delacroix, Turner e Constable, recuperam o dinamismo e o realismo que os neoclássicos haviam negado e introduzem novos elementos como a composição em diagonal, a valorização da cor e o reaparecimento dos contrastes claro-escuro, produzindo efeitos de grande dramatismo. No romantismo destacam-se o trabalho de luz e a individualidade de cada personagem.
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Os Fuzilamentos do 3 de Maio de 1808, na Montanha do Príncipe Pio Francisco Goya, óleo sobre tela, 268 x 347 cm. Museu do Prado, Madrid, Espanha |
Exemplificativa da análise de uma imagem fixa escolhi esta obra que admiro profundamente. Goya é de longe um dos meus pintores preferidos dentro deste estilo e esta tela capta a minha atenção não só pelo seu dramatismo, mas também pelo facto de se tratar de um episódio histórico real, representativo da coragem de um povo que luta pelos seus direitos, pela sua honra, pelos seus semelhantes, pela sua pátria. O contraste de cores, o branco imaculado da camisa da personagem que se destaca, a luz que nela se prende e que nos leva a olhá-la fixamente, absorvendo todo o seu desespero, toda a sua angústia e ao mesmo tempo toda a sua coragem. É uma obra maravilhosa!
A importância da Guerra nas obras de Francisco de Goya é visível neste quadro. O tema desta obra remete-nos para um acontecimento histórico: os fuzilamentos levados a cabo pelo exército francês sobre a população de Madrid que havia pegado em armas para defender a cidade do invasor. Esta obra eterniza esse massacre. A tragédia e o horror da fria execução estão visíveis, sobretudo, na figura do herói anónimo, vestido com uma camisa branca, cujos braços abertos às balas e expressão atestam o heroísmo e o nacionalismo destes quarenta e três patriotas fuzilados às quatro da manhã na montanha do Príncipe Pio. As posições dos soldados e seus fuzis, e a iluminação da obra, orientam a nossa visão para os condenados, atribuindo à obra todo o seu dramatismo.
O relato deste massacre foi descrito por Trucha, um criado de Goya desta forma: No meio de poças de sangue vimos um monte de cadáveres, uns de barriga para baixo, outros de barriga para cima, um todo encolhido beijava a terra, outro com as mãos levantadas para o céu, pedia vingança e misericórdia.
A pincelada solta põe em relevo a rapidez com que terá sido executado pelo artista. O efeito de luz utilizado - efeito claro/escuro, é conseguido pela presença de um único foco de luz, que se concentra na vítima central, de braços abertos, e que se espalha para o chão, onde se encontra um cadáver. Desta forma, o lado das vítimas é iluminado pelas luzes trazidas pelos Hussardos franceses, e do lado destes predomina o escuro, a sombra, também caracterizada pela inexistência de rostos. O artista universaliza o tema da repressão política e consegue-o acentuando o contraste entre o aspeto pessoal dos que vão morrer (rostos visíveis) e o aspeto anónimo dos soldados que matam (rostos ocultos). Goya, como ninguém, simbolizava a eterna revolta popular contra a opressão.
Goya (1746-1828): A Luta Pela Liberdade
Francisco José de Goya trabalhou temas diversos: retratos de personalidades da corte espanhola e de pessoas do povo, os horrores da guerra, a mitologia grega e cenas históricas. Goya soube alterar fundamentalmente o modo de reproduzir o conteúdo histórico, dando-lhe um caráter mais geral, sendo exemplo disso o quadro "Os Fuzilamentos de 3 de Maio".
Referência Bibliográfica:
Fênix – Revista de História e Estudos Culturais
Maio/ Junho/ Julho/ Agosto de 2012 Vol. 9 Ano IX nº 2
ISSN: 1807-6971
Disponível em: www.revistafenix.pro.br
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