segunda-feira, 17 de junho de 2013

Os Fuzilamentos do 3 de Maio de 1808 em Madrid

O Século XIX foi marcado por fortes mudanças sociais, políticas e culturais causadas pela Revolução Industrial e pela Revolução Francesa. A atividade artística tornou-se mais complexa e podem-se identificar neste período movimentos artísticos de diferentes concepções e tendências, como o Romantismo, o Realismo, o Impressionismo e pós-impressionismo. De todos, o Romantismo foi o que se caracterizou como a primeira e mais forte reação ao Neoclassicismo, embora tenha durado apenas 30 anos (1820- 1850).
O artista romântico procurou libertar-se das convenções acadêmicas a  favor da livre expressão, da valorização dos sentimentos e da imaginação como princípios da criação artística. A estética romântica é caracterizada por sentimentos como o nacionalismo e a valorização da natureza.

A Pintura Romântica
Negando a estética neoclássica, a pintura romântica aproxima-se das formas barrocas. Pintores românticos como Goya, Delacroix, Turner e Constable, recuperam o dinamismo e o realismo que os neoclássicos haviam negado e introduzem novos elementos como a composição em diagonal, a valorização da cor e o reaparecimento dos contrastes claro-escuro, produzindo efeitos de  grande dramatismo. No romantismo destacam-se o trabalho de luz e a individualidade de cada personagem.




Os Fuzilamentos do 3 de Maio de 1808, na Montanha do Príncipe Pio
Francisco Goya, óleo sobre tela, 268 x 347 cm. Museu do Prado, Madrid, Espanha
  
Exemplificativa da análise de uma imagem fixa escolhi esta obra que admiro profundamente. Goya é de longe um dos meus pintores preferidos dentro deste estilo e esta tela capta a minha atenção não só pelo seu dramatismo, mas também pelo facto de se tratar de um episódio histórico real, representativo da coragem de um povo que luta pelos seus direitos, pela sua honra, pelos seus semelhantes, pela sua pátria. O contraste de cores, o branco imaculado da camisa da personagem que se destaca, a luz que nela se prende e que nos leva a olhá-la fixamente, absorvendo todo o seu desespero, toda a sua angústia e ao mesmo tempo toda a sua coragem. É uma obra maravilhosa!
 
A importância da Guerra nas obras de Francisco de Goya é visível neste quadro. O tema desta obra remete-nos para um acontecimento histórico: os fuzilamentos levados a cabo pelo exército francês sobre a população de Madrid que havia pegado em armas para defender a cidade do invasor. Esta obra eterniza esse massacre. A tragédia e o horror da fria execução estão visíveis, sobretudo, na figura do herói anónimo, vestido com uma camisa branca, cujos braços abertos às balas e expressão atestam o heroísmo e o nacionalismo destes quarenta e três patriotas fuzilados às quatro da manhã na montanha do Príncipe Pio. As posições dos soldados e seus fuzis, e a iluminação da obra, orientam a nossa visão para os condenados, atribuindo à obra todo o seu dramatismo.
 
O relato deste massacre foi descrito por Trucha, um criado de Goya desta forma: No meio de poças de sangue vimos um monte de cadáveres, uns de barriga para baixo, outros de barriga para cima, um todo encolhido beijava a terra, outro com as mãos levantadas para o céu, pedia vingança e misericórdia.
 
A pincelada solta põe em relevo a rapidez com que terá sido executado pelo artista. O efeito de luz utilizado - efeito claro/escuro, é conseguido pela presença de um único foco de luz, que se concentra na vítima central, de braços abertos, e que se espalha para o chão, onde se encontra um cadáver. Desta forma, o lado das vítimas é iluminado pelas luzes trazidas pelos Hussardos franceses, e do lado destes predomina o escuro, a sombra, também caracterizada pela inexistência de rostos. O artista universaliza o tema da repressão política e consegue-o acentuando o contraste entre o aspeto pessoal dos que vão morrer (rostos visíveis) e o aspeto anónimo dos soldados que matam (rostos ocultos). Goya, como ninguém, simbolizava a eterna revolta popular contra a opressão. 
 
 

 
Goya (1746-1828): A Luta Pela Liberdade

 
Francisco José de Goya trabalhou temas diversos: retratos de personalidades da corte espanhola e de pessoas do povo, os horrores da guerra, a mitologia grega e cenas históricas. Goya soube alterar fundamentalmente o modo de reproduzir o conteúdo histórico, dando-lhe um caráter mais geral, sendo exemplo disso o quadro "Os Fuzilamentos de 3 de Maio".


Referência Bibliográfica:

Fênix – Revista de História e Estudos Culturais
Maio/ Junho/ Julho/ Agosto de 2012 Vol. 9 Ano IX nº 2
ISSN: 1807-6971
Disponível em: www.revistafenix.pro.br







 

domingo, 16 de junho de 2013

Era uma vez o Homem...

Partilhei convosco este pequeno filme, de uma série que seguia sempre, da qual fiz coleção de cromos e que adorava. Numa altura, não há tantos anos atrás, embora no século passado, em que as "novas tecnologias" eram a rádio, a televisão e o cinema, esta série despertou em mim o meu amor pela História.
Muitas críticas se poderão fazer, se a formos analisar detalhadamente, mas para mim isso era irrelevante. Ela mostrava-me o passado, fazia-me sonhar que pertencia a outras épocas e que vivia mil aventuras. Nela eu era a pastora, a princesa,...
Este amor era partilhado pelo meu saudoso pai, um homem da marinha que adorava contar histórias. Eu sentava-me ao colo dele e pedia-lhe: "Papá conta-me histórias da tua vida." E ele contava. Umas divertidas, outras mais sérias, mas sempre emocionantes. Foi com ele que visitei todos os museus de Lisboa, sendo que o meu preferido era o Museu da Marinha. E eu queria ser homem....não porque não gostasse de ser menina, mas porque naquela altura só os homens iam para a marinha e eu queria viajar e viver aventuras. Ficava imenso tempo na sala do Oriente, onde havia armaduras samurais e olhava para os quadros das guerras navais, tão realistas que quase se podia ouvir o barulho dos canhões, cheirar o fumo e sentir a força das ondas.
Para mim tudo isto é História.
A minha História.

Era Uma Vez... O Homem - Ep. 11 - Os Construtores de Catedrais


Goodbye Lenin! [2003] - Trailer


Filmes como ferramenta didática para o ensino da História


Utilizo este recurso didático como forma de avaliação formativa porque considero que um dos principais objetivos da disciplina de História seja levar os alunos a conseguirem verbalizar e escrever sobre os conteúdos estudados, de forma a melhor entenderem a realidade estudada e permitindo-lhes um relacionamento mais fácil entre o presente e o passado. Os filmes são documentos que mexem com a memória e a imaginação e estes estímulos ajudam a que visualizem e se lembrem com mais facilidade dos factos, acontecimentos históricos e conceitos. De uma forma dinâmica e interativa compreendem que estudar acontecimentos do passado os ajuda a perceber de que forma eles contribuíram para a construção, organização e funcionamento da sociedade. Considero pois que o uso de imagens, neste caso o vídeo, é uma das formas mais eficazes como recurso pedagógico no ensino da História, não só para incrementar o processo de aprendizagem mas também para facilitar a avaliação contínua. Neste sentido o filme e a sua análise temática representam uma ferramenta didática auxiliadora na construção de conhecimentos e posterior avaliação dos mesmos. Como refere Roberto Abdala Junior (2008), “Os filmes são instrumentos mediadores e atuam como representações sobre o passado, empregando elementos imagéticos, discursivos, sociais, políticos e económicos ocorridos nas disputas que configuraram o contexto histórico da época.”

A possibilidade de acesso ao conhecimento histórico através desta linguagem só é possível devido ao facto de ser professora numa escola profissional equipada com uma vasta gama de material tecnológico. No entanto, apesar de considerar esta metodologia de ensino e forma de avaliação alternativa eficazes reconheço que o planeamento é fundamental para a utilização de um filme em sala de aula. A escolha do filme tem que seguir um propósito claro e deve ter como base a análise de um conteúdo ou facto histórico específico. Desta forma, as cenas visionadas levam à introdução de uma série de questões de aula, onde se relaciona o tempo, o espaço e a sociedade. Como refere Elias Thomé Saliba (1997, pp119-120) “(…) o filme é uma construção imaginativa que necessita ser pensada e trabalhada interminavelmente. A construção da História nos documentários ou na ficção científica é mais do que uma interpretação da História, pois o ato de engendrar significados para o presente lança o realizador (ou os realizadores) da ficção filmítica em possíveis ideologias que ele não domina em sua totalidade. Portanto, construir a História na narrativa filmítica pode implicar, inclusive, destruir significados estáveis, desmontar sentidos estabelecidos, desmistificar ilusões ou mitos já cristalizados. Porque ressaltar o aspecto de construção subjetiva da História na narrativa filmítica, significa reconhecer a memória coletiva como terreno comum da ficção e da historiografia.”

“Estimule os seus alunos a abrir as janelas da mente, a ter ousadia para pensar, questionar, debater, romper paradigmas.” Augusto Cury
 
 
Referências Bibliográficas:
JUNIOR, R.A. Cinema e História: elementos para um diálogo. In O olho da história. Bahia, nº10, abril 2008.
SALIBA, E.T. As imagens canônicas e o Ensino de História. In SCHMIDT, M.A. (org) III ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DA HISTÓRIA. UFPR/Aos Quatro Ventos, Curitiba, PR,1999.

 
 

A importância do uso da Plataforma Moodle no ensino da História


                                                 
Os ambientes virtuais de aprendizagem são uma metodologia muito interessante para utilizar na área que leciono. Utilizados como complemento ao ensino presencial, favorecem uma participação mais ativa e autónoma dos alunos durante todo o processo de aprendizagem. A dinamização de um ambiente virtual de aprendizagem, a par de uma intervenção pedagógica, pressupõe um modelo sócio construtivista onde os alunos tem um papel cada vez mais ativo no processo de ensino e aprendizagem.

Sendo docente numa escola profissional, tenho a grande vantagem de encontrar ao meu dispor todo o tipo de recursos tecnológicos necessários para a apresentação de materiais pedagógicos, sob a forma de textos, áudios e vídeos. Neste sentido, uma metodologia de ensino da História, através da articulação das atividades de sala de aula presencial com as realizadas online é a que mais se adequa à realidade da minha escola. A utilização da plataforma moodle é essencial neste processo, através da utilização de textos e vídeos, como material pedagógico comum a todos os alunos, com o objetivo de os colocar perante um tema-problema, que pode ser debatido e trabalhado de diferentes maneiras e através de um acompanhamento personalizado dos alunos, ajudando-os na realização das suas tarefas, tirando dúvidas e alertando para algumas questões, com o objetivo de incentivar o diálogo e promover uma aprendizagem sistemática. A sensação de independência que adquirem através da utilização desta metodologia é, também ela, um incentivo à dinamização do ensino da História da Cultura e das Artes. A possibilidade de, em qualquer lugar e a qualquer hora poder ler, ouvir ou visualizar um determinado tema e trabalhá-lo, com a segurança de que qualquer dúvida poderá ser colocada através de correio eletrónico ou de fóruns criados para o efeito, faz parte da autonomia no trabalho que deve ser uma constante numa escola profissional. Os alunos terem acesso a computadores pessoais e à Internet facilita a utilização deste método de ensino. No entanto, continuo a considerar de extrema importância o método presencial, assim como José Aberto Lencastre refere na conclusão do capítulo 1 (p.29) “Conseguir a mistura adequada entre os meios e a tecnologia que inclua o uso da sala de aula integrado num programa multimédia bem desenhado é a aproximação com maiores probabilidades de sucesso.”
 
A utilização desta metodologia apresenta inúmeras vantagens: permite e incentiva a autonomia dos alunos, a criatividade, a partilha de ideias, a possibilidade de controlar o tempo de trabalho, o acesso a uma informação alargada através do recurso à Internet,… no entanto algumas desvantagens devem ser tidas em conta, como por exemplo uma má organização do tempo, aliada a uma falta de maturidade e de responsabilidade, falta de conhecimentos tecnológicos para utilizar convenientemente os meios ao seu dispor, a falta de formação dos formadores. A falta de maturidade e a má gestão do tempo são uma realidade que obriga a um acompanhamento constante. Para este acompanhamento muito contribuem também os workshops que a escola frequentemente oferece a alunos e docentes, dentro das áreas de multimédia, áudio e vídeo, além de material adequado a alunos com deficiências visuais, auditivas, motoras,… através da adaptação de materiais pedagógicos; alguma realizada pelos próprios alunos nas aulas técnicas de multimédia, áudio e vídeo, com locução e legendas.


Referência Bibliográfica:

MONTEIRO, A., MOREIRA, J.A., ALMEID, A.C. & LENCASTRE, J.A. (Orgs.) (2012). Capítulo 1 In Blended learning em Contexto Educativo: Perspectivas Teóricas e Práticas de Investigação. Santo Tirso: Defacto Editores.


 
           

sexta-feira, 14 de junho de 2013

The Future Starts Now - 2012 edition


O uso das TIC no Processo de Ensino e Aprendizagem no ensino da História.


 
Como professora de História da Cultura e das Artes, ao longo do meu percurso profissional deparei, várias vezes, com barreiras, quase intransponíveis, no que diz respeito às inovações na metodologia de ensino. Não são poucos aqueles que consideram este ramo do saber como estanque, não evolutivo e muitas vezes desmotivador.

Considero que a História é um ramo do saber permeável, adaptável a novas metodologias, dinâmico, e que muito tem a ganhar com a utilização das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação. No entantoestou ciente que também no Processo de Ensino e Aprendizagem da História há que haver uma adaptação às novas tecnologias, tentando corresponder aos novos desafios da escola do século XXI.

Maria Isabel Candeias e João Álvaro Dias, no texto A nossa sala de aula já é maior que o planeta Terra!, referem que  “Os desafios da Sociedade da Informação estão profundamente associados a um crescente recurso às Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e em particular ao uso dos meios informáticos e ao acesso à rede Internet” (2088, p.142). Desta forma, estando o acesso aos computadores bastante generalizado, a utilização da Internet torna-se um elemento motivador no processo de ensino-aprendizagem.
 


 
 
No entanto, é necessário que as TIC estejam bem integradas no processo de aprendizagem, para que apoiem e complementem as práticas desenvolvidas nas aulas. Uma das questões que ainda hoje se levantam é que estas novas tecnologias, adaptadas ao ensino da História, provocariam a dispersão e a falta de atenção dos alunos nas aulas, ficando mais interessados na tecnologia em si que no conteúdo programático da exposição do professor. Também aqui, o professor deve ser o principal impulsionador da comunicação e, para que ela ocorra, o seu discurso deverá ser explícito e os alunos estarem dispostos a captar e interatuar com a mensagem e com os meios humanos e materiais. Para isso, a metodologia tem que ser adaptada à realidade das Turmas e das Escolas. Frequentemente nos encontramos perante Turmas pouco motivadas e sem expetativas futuras. No meu caso, e dado que leciono numa Escola Profissional diretamente virada para as novas tecnologias, muitas vezes os alunos me questionam acerca da importância da disciplina de História da Arte. Em áreas do ensino vocacionadas essencialmente para a prática, como os cursos de Técnico de Design e Artes Gráficas, Técnico de Áudio e Vídeo ou Técnico de Multimédia é natural que me seja colocada esta questão. Obviamente que nestes casos é preciso ter um bom relacionamento com os alunos e tentar ir ao encontro das suas necessidades e expetativas.
 


Como refere Augusto Cury, psiquiatra e educador, “Os bons professores têm uma boa cultura académica e transmitem com segurança e eloquência as informações na sala de aula. Os professores fascinantes ultrapassam essa meta. Eles procuram conhecer o funcionamento da mente dos alunos para os educar melhor. Para eles, cada aluno não é apenas um número na sala de aula, mas um ser humano complexo, com necessidades peculiares” (2006, p.59). É aqui que as TIC, associadas a esta forma de entender a educação, poderão definitivamente aproximar professor e aluno.
 
 
É indispensável uma escola onde as novas tecnologias façam parte do dia-a-dia de docentes, alunos e funcionários. Uma escola onde seja incentivada e dada a possibilidade de uma adaptação do método de ensino às necessidades dos alunos. Mas também aqui é necessário que os professores vejam nas novas ferramentas tecnológicas um aliado na dura tarefa de motivar, cativar e despertar para o caminho do conhecimento. Como refere Elizabete Silva, pedagoga de Artes Plásticas e Música e pós-graduada em Metodologias do Ensino de História e Geografia, “A Educação deve proporcionar o acesso ao conhecimento, à produção e à interpretação das tecnologias. Dessa forma, o professor, que é o facilitador do aprendizado, o mediador do conhecimento, precisa estar preparado para a abordagem da informação tecnológica no espaço escolar. O educador da nossa contemporaneidade é um profissional que depara a cada instante com algo novo, inusitado, e por isso mesmo precisa estar em constante aperfeiçoamento de suas práticas pedagógicas, especialmente em relação à utilização das Tic’s”

 
 
 
 
Referências Bibliográficas:
CURY, Augusto, Pais Brilhantes, Professores Fascinantes, Lisboa, Editora Pergaminho, 2006
FERMEIRO, Gabriel (2010). O Emprego das TIC no Ensino de História. Disponível em http://macuenjere.blogspot.pt (05:52)
SANTOS SILVA, Elizabete Rosa (2011). Tecnologias da Informação no Ensino de História e Geografia. Disponível em  http://www.artigonal.com (29/12/2011)